terça-feira, 2 de julho de 2013

Carta de Medéia

Por que o amor foi na minha vida, uma guerra inteira? Eu lhes respondo, que amor devastador foi esse. Não! não estou contra as ondas do mar, mas assumo, estou aqui para testar meus limites. Acusem-me do que quiserem, feiticeira, bárbara, passional, que elevou sua paixão as últimas consequências, passou por cima da sua existência, amordaçou a sua prole. Quando confessei a face oposta para esse amor, para esses tiranos, mostrei a todos um ser divino vingativo, expositor de uma ira sem freios. Fui selvagem, dissimulei, humilhada pela postura do meu marido. Jasão destruidor, causador da minha implosão, vomitada violentamente para o mundo, em forma de fogo, ciúmes, rejeição, morte.  Ao povo de Corinto, jorrei rios de ódio, gritei toda força e verdade de mulher, ameacei todos com meu jogo. Minha grande dor foram esses abutres, os causadores, terror, repulsa e vingança. Jasão, arrependa-se de todos os males causado a mim e aos nossos filhos!  Foste o maior protagonista sanguinário dessa história. Covardemente conduziu-me, pediu e implorou esse mar de fúria.  Ninguém enxerga, de todas as criaturas viventes, que ama, sofre, mata, nós mulheres, somos as mais sofredoras. E eu, Medéia, só executei o alívio do meu sofrimento.

Os Deuses me protejam.

Medéia – Corinto
Por  Silmara Silva

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