domingo, 7 de julho de 2013

Atriz que canta, mas não é cantora?

"Estouramos" todas as notas musicais no meu quadragésimo sétimo ensaio. Depois de tentativas suadas de cantar e, não conseguir suprir a necessidade da cena, do diretor e a minha. Estouramos! A sabedoria existe para ser pensada, refletida e aplicada em pequenos gestos. Sei da grande dificuldade para nós atores cantar em cena. Porém não precisamos ser cantores, mais somos obrigados a entender de música para cantar como atores.  O teatro contemporâneo exige, pede, implora várias habilidades. Entender que teatro é a reunião de todas as artes em uma só. O que fazer então? Há meses corri atrás de um profissional do canto para me ajudar tanto com técnicas vocais como para me ensinar todos caminhos técnicos para cantar como atriz. Resposta dos profissionais: "Não tenho tempo infelizmente! Ou, vou sim e nem precisa pagar, apenas coloque meu nome no projeto, enfim. Mas, nunca aparecem em nenhum ensaio! Primeiro que não existe no Piauí, pelo menos que eu saiba, profissionais especificamente preparados para essa atividade. O que temos são profissionais ligados a música, portanto trabalham ou tem a preocupação em trabalhar afinação. E, na minha simples opinião a voz do ator precisa de um trabalho vocal, mais diversificado, tendo em vista, as particularidades do ofício. Acho que uma das soluções seria um profissional, com uma perspectiva direta em trabalhar a personalidade vocal individual de cada intérprete e suas possibilidades performáticas. Então, me vi numa situação desértica vocalmente falando. A única solução seria procurar um profissional para orientar-me no fazer. Estou estudando sozinha, mais é complicadíssimo. Agora precisei desse trabalho específico de voz na penúltima cena e, terminei em desespero, choro e me sentindo impotente diante do desafio. Mas, vou conseguir com ou sem esse profissional me auxiliando. Nenhuma técnica vocal é mais importante para um ator do que ele cantar com a alma, o coração e amor. Vencerei!

Por Silmara Silva

terça-feira, 2 de julho de 2013

Carta de Medéia

Por que o amor foi na minha vida, uma guerra inteira? Eu lhes respondo, que amor devastador foi esse. Não! não estou contra as ondas do mar, mas assumo, estou aqui para testar meus limites. Acusem-me do que quiserem, feiticeira, bárbara, passional, que elevou sua paixão as últimas consequências, passou por cima da sua existência, amordaçou a sua prole. Quando confessei a face oposta para esse amor, para esses tiranos, mostrei a todos um ser divino vingativo, expositor de uma ira sem freios. Fui selvagem, dissimulei, humilhada pela postura do meu marido. Jasão destruidor, causador da minha implosão, vomitada violentamente para o mundo, em forma de fogo, ciúmes, rejeição, morte.  Ao povo de Corinto, jorrei rios de ódio, gritei toda força e verdade de mulher, ameacei todos com meu jogo. Minha grande dor foram esses abutres, os causadores, terror, repulsa e vingança. Jasão, arrependa-se de todos os males causado a mim e aos nossos filhos!  Foste o maior protagonista sanguinário dessa história. Covardemente conduziu-me, pediu e implorou esse mar de fúria.  Ninguém enxerga, de todas as criaturas viventes, que ama, sofre, mata, nós mulheres, somos as mais sofredoras. E eu, Medéia, só executei o alívio do meu sofrimento.

Os Deuses me protejam.

Medéia – Corinto
Por  Silmara Silva