quinta-feira, 19 de setembro de 2013

"Não Coloque Cacos de Vidro no Seu Caminho"

Nós atores(izes), temos uma preocupação exacerbada de querer mostrar sempre o melhor, que somos bons, inteligentes e que nunca erramos. Nossa profissão é exibicionista por natureza. Temos apenas que saber equacionar essa exibição. Então, o que seria ser um bom ator? Aquele que tem a verdade de uma imagem, aquele que sabe tudo sobre o personagem e, está dentro da estrutura do mesmo. Ou, é generoso, prefere dar prazer a platéia com a sua atuação, que dar prazer para si próprio. Não seria a vaidade maior que tudo isso? Infelizmente combater essa vaidade artística, essa frieza cênica e canibal, vem sendo o fantasma dos nossos dias criativos. Em "Exercício Sobre Medéia", venho me deparando com uma avalanche de desprendimento, como achismos, egocentrismo, auto-críticas, e devaneios. Grande parte dos obstáculos nós mesmos damos vida em um processo de criação, sejam esses físicos, emocionais ou espirituais, que geram então uma interrupção da vontade. Cacos de vidros falhos que só atrapalham nossa trajetória. A preocupação enlouquecida com o "eu" e, não com o trabalho teatral, evoluem para as cascas secas ao vento. Eu, mesma venho me debatendo contra minhas "verdades", venho superando essa falta de equilíbrio, que de certa forma é importante, pois precede a criação. Faz parte do processo! Porém, precisei entender que na falta de disciplina, havia uma ausência de método, uma incompreensão do mesmo que geraria uma vontade doente. Não usar da resistência para resolver seus fricotes, abusos e incompetências. Chorar não vai te redimir de nada! Aceitar sim, o seu fazer artístico teatral como ofício, estudo, vida, suor, trabalho e amor. Eu assumo ser dona de uma insegurança, chiliques desnecessários em busca de uma verdade talvez que nem exista. Mas, eu acredito no meu trabalho, na minha vontade de amar cada vez mais minha arte, lutando e combatendo as vaidades e as vicissitudes do caráter humano. Parafraseando - Eugênio Barba que diz: " Numa época em que a fé em  Deus é diagnosticada como neurose, ficamos sem parâmetros para avaliar se vivemos ou não a nossa própria vida. Não importa que motivações secretas e pessoais levaram você a fazer teatro, mas, agora que estas exercendo essa profissão, deve encontrar um sentido nisso. Um sentido que indo além de sua persona, faça você se confrontar socialmente com os outros... Partir de si mesmo e para si mesmo. Só assim é possível se confrontar com os outros e fazer com o que nos reconheçam". 

Por Silmara Silva